Salve 93 anos de Ruth! por Regina Rousseau

Salve 93 anos de Ruth!


Ela nasceu às margens do Paraíba, em 13 de junho de 1920 em Cachoeira Paulista. Cresceu num Vale encantado - espaço entre duas grandes montanhas de onde brota um rio.
Desde pequena, a menina Ruth, encantou-se pelas letras e ainda criança compôs seu primeiro poema. À sua porta, o céu se abria para a rósea manhã que amanhecia com ipês coloridos.
Numa chácara, um lugar perdido do paraíso, nas noites cachoeirenses, ela passou a contar a saga das aventuras humanas e das fantasias folclóricas, suas personagens caboclas, em meio a casinhas de pau-a-pique, em textos singelos como a sua gente, com a alma da poesia correndo pelas veias.
O cenário era de duas catedrais: uma no alto do morro, encostada ao céu; outra, refletida no espelho das águas. A cidade e seu entardecer, o cair da noite, quando as árvores nuas tremem ao vento norte, e as pessoas caminham de volta para casa, pelas ruas que escurecem e silenciam... onde só se ouvem a melodia de grilos, sacis, corujinhas-do-campo e latidos de cães sem dono. Ao longe, um violão entoando lamentos e suspiros de amor. E como em toda cidade do Vale, o apito comprido do trem noturno.
Mais tarde seguindo pelos caminhos mágicos da escrita, formou-se em Letras Clássicas, com especialização em Filologia Românica, Belas Artes, Folclore e Estética. Lecionou português durante trinta anos na rede pública estadual e em diversas faculdades, colaborando com os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. Florescia, assim, a obra de Ruth Guimarães Botelho, tornando-se uma das personalidades mais importantes da literatura brasileira. Em 1946, publicou Água Funda, romance muito elogiado pela crítica. Ela estava à frente de seu tempo, rompendo as barreiras do preconceito – cor, sexo e origens – em uma época em que a mulher era discriminada, quase sem direitos, vivendo apenas para servir ao marido. Discípula de Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Amadeu Amaral. Conviveu com Cecília Meireles, Carlos Heitor Cony, Lygia Fagundes Teles.
Pertence à Academia Paulista de Letras e a Academia Cachoeirense de Letras e Artes, por sua primorosa contribuição à literatura brasileira.
Mas Ruth não se importa com tantas láureas ou com a proclamada imortalidade, pois bem sabe que a imortalidade reside no amor que deixamos nas lembranças das pessoas que nos amam.
Registrou: "Escreverei, hoje, para hoje? Que é quanto dura uma crônica de jornal? Para amanhã? Para daqui a um ano? Para daqui a uma década, que é quanto dura – quem sabe? – um livro?
Não sei. Realmente não sei. Continuo tecendo o meu casulo.
Em meus textos, onde estou? Do que dou testemunho, certamente, é que eu estava mesmo aqui, enquanto os escrevia".
E estará sempre, pois nenhuma borracha apaga o legado que Ruth nos brindou!

Regina Rousseau

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