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Mostrando postagens de 2013

E viva o Saci Pererê por Regina Rousseau

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 Saci Pererê E viva o Saci Pererê! A celebração do Dia Nacional do Saci-Pererê, é dia 31 de outubro,  E viva o Saci Pererê! O Saci Pererê, é nosso, brasileiro, tem raiz, protege um de nossos bens mais preciosos, nossas plantas e florestas. Devemos honrar o que é realmente nosso. Basta existir um bambuzal e, de repente, de dentro dos caniços, nascem os sacis. É como eles vêm ao mundo, dispostos a fazer estripulias. Conta a história que esses seres já existiam bem antes do tempo que os portugueses invadiram nossas terras. Ele nasceu índio, moleque das matas, guardião da floresta, a voejar pelos espaços infinitos do mundo Tupi-Guarani. Quando milhares de negros, caçados na África e trazidos à força como escravos, chegaram no já colonizado Brasil, houve uma redescoberta. Da memória dos índios, os negros escravos recuperaram o moleque libertário, conhecedor dos caminhos, brincalhão e irreverente. Aquele mito originário era como um sopro de alegria na vida sofrida de quem se arrastava com o

Jovem de Assis por Regina Rousseau

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Jovem de Assis “Que o Senhor lhe dê a paz”. Assim, orava em Assis, um jovem rico rapaz. Ele rompeu barreiras com sua figura serena, em direção aos pássaros do céu, que repousavam em seus ombros e os animais selvagens a seus pés. Caminhava sobre pedras fraternas com o sol, a lua e a estrelas. Andarilho revolucionário do espírito, Francisco escolheu não viver nas cômodas metáforas da pobreza, mas em total indigência. Irmão Sol, o mundo tem saudade de você! Como arde amar as criaturas do Criador Amado! Muitas criaturas têm o coração covarde e não entende como é possível amar os leprosos e sua dor seca; os marginalizados e seus olhos cauterizados. Na verdade Francisco, poucos sabem que o amor corre risco. E que a força da fé é própria Daquele que está em ti. Regina Rousseau

Alergias Alimentares por Mariana Prado

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Alergias Alimentares um risco à Saúde Alergias Alimentares (AA), é definida como uma resposta imunológica adversa aos alérgenos alimentares. As hipersensibilidade alimentares, geralmente usada como sinônimo de AA, pode ser definida como uma reação clínica adversa, reproduzível após a ingestão de alérgenos presentes nas proteínas dos alimentos, mediada por uma resposta imunológica anormal. A prevalência de doenças alérgicas em crianças e adultos jovens, aumentou drasticamente nas últimas décadas, e as alergias alimentares (AA) são parte desse aumento. Os riscos ao bem estar aumentam a medida que os alimentos consumidos em uma população, são cada vez mais processados e complexos. As Alergias Alimentares são bem mais comuns no grupo pediátrico do que em adultos. A imaturidade da barreira mucosa intestinal, vem sendo apontada como um dos mecanismos que poderia explicar a incidência mais alta de AA em lactentes e crianças. Um diagnóstico preciso é essencial para o manejo correto da AA. O di

CARTA ABERTA PARA RENATO RUSSO

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CARTA ABERTA PARA RENATO RUSSO por Regina Rousseau Ontem, voltando do enterro do meu tio, parei diante de uma pedra mortuária e, sentada com a chuva, choramos juntas. Conheço decór essa dor. Uma dor aguda, fina. Sentimentos de perda e perplexidade voltaram novamente à minha vida, que agora estão catapultados, soltos no ar. Mesmo passados dezessete sóis, as flores da saudade, ainda invadem o país, o estado, a cidade, o quarto, e numa rotina escrita a mão, desenho o balanço da cidade para você: de dia falta água, à noite falta luz. Bendita seja cada dia nossa cruz! Ninguém sabe o que está acontecendo. Tão pouco, fica difícil prever o que vem por aí. O furor e a indignação do nosso Pai chegaram ao limite, no entanto, poucos percebem e resistem aos furacões, aos terremotos, às inundações, às corrupções. Mas pela luneta de Galileu, nosso povo tem tentado, até eu. Quem sabe o destino? Quem o ignora? Como de costume, como de outrora, o perigo vinha muitas vezes, na forma do desconhecido, do i

ORAÇÃO PARA SÃO CLEMENTINO por Ruth Guimarães

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ORAÇÃO PARA SÃO CLEMENTINO  Ruth Guimarães Minha mãe era uma boa alma. A mais antiga das minhas lembranças a respeito de um tal seu Clementino, servente do Grupo Escolar o traz de volta ao olhar da memória, batendo os tamancos na chamada rua da Ponte, aliás rua de Cima, nome certo era Silva Caldas (Silva, não Sílvio). Vinha pela rua muito franzino e curvo, branquinho, engelhado, com seu parelho de brim de cinza gasto, desbotado o paletó subindinho nas costas, corcunda que seu Clementino era. O sol era quente, tremia o ar, as árvores se abochornavam, cansadas, havia um lento ensimesmar por toda a várzea.  Rua de Cima era quente, negra, modorrenta. Seu Clementino vinha de tamancos, pleque-pleque, era um custo andar todo aquele pedaço. Todos os dias.  Tinha a fala mansa.  Tinha um riso malestarento, de boca entreaberta, suplicante, deixava a gente com vontade de chorar e meio com raiva dele. Tinha um modo de dizer “sim-senhor” (“Não-senhor” não falava).  Dava vontade de sair de perto. Não

TEOGONIA TUPI por Ruth Guimarães

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TEOGONIA TUPI Ruth Guimarães Contam os velhos caboclos, mestiços de índios, que abaixo de onde nós moramos existe uma outra terra. Diferença que tem deste mundo é pouca. O que existe aqui existe lá, mas é tudo mais bonito. Consta de um campo grande, tão grande que do comecinho não dá pra ver o fim. A vista não alcança. O campo tem grama verde, de um verde claro e lustroso, de canavial depois da chuva. Buriti lá embaixo é arvorezinha, pequenina, altura de uma pessoa. É como cajueiro do cerrado, que em vez de árvore frondosa é arbusto. Quem quiser chupar coquinho de buriti é só estender as mãos e lá estão os frutos maduros, oferecendo-se. As campinas estão cheias de caça. Muito se vê ali. Anta, capivara, tatu, tamanduá, veadinho campeiro, caça grande e caça de pena, mutum, jacutinga, cajubi, codorna. Há de um tudo, nos encantados campos. Gente? não se sabe se assiste ali. A caça percorre tranqüila os grandes banhados, sem ninguém que judie dela. Dizem que os porcos-do-mato procedem de lá

Gota d’água por Regina Rousseau

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Gota d’água (in memoriam Dom Helder Câmara) Por certo, ao saber que o relógio marca o tempo da paciência, ele tinha o dom de lutar e a linguagem dos pobres falar. Reconhecendo a urgência do momento, era preciso libertar da tortura da fome, o Brasil dos excluídos. Uma gota d’água pode salvar a sinfonia destes dois mundos, e reconciliar a Igreja com o terceiro mundo. Abençoados os que cultivam a coragem, na terra onde a voz é fraca e melancólica e se perde com detalhes insignificantes. Abençoados os que espremem cada gota de vida em favor das almas desfavorecidas, para que cessem as lágrimas dos órfãos. Neste solo estrangeiro, Dom Helder, cidadão de outro reino, alma flamenga, enxergava outro mundo, do lado de fora da sua janela... desperta Igreja! Regina Rousseau

TEATROCRACIA por Ruth Guimarães

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TEATROCRACIA Ruth Guimarães Porque a terra é redonda e nossa vida também é, a gente dá duas voltinhas e vai parar na Grécia.  Que culpa temos nós de que a sua filosofia seja tão profunda e poderosa, tão arguta s sábia, que nos revelou a nós mesmos, e revelou as sociedades a si próprias, com uma dolorosa verdade? Os gregos viviam muito mais nas ilhas que nos continentes.  Muito mais no mar que na terra.  O excesso de mar fez deles navegantes.  Eles conheceram a solidão, dias e dias sem paisagem, somente mar e céu, dias e dias em que o marulho das ondas, sempre igual e sempre repetido, à força de ser sempre o mesmo se transformava em silêncio. Os lusitanos também padeceram de solidão, de mar sempre azul, do toque do silêncio e do beijo da morte.  Nem por isso se deram às grandes interrogações.  Nem por isso os inquietou o mistério da natureza humana.  E o que é mais.  Com esses carismáticos e cabulosos gregos, o que eles inventaram, descobriram, filosofaram, usaram e viveram, permaneceu

Sinos de cidade morta por Ruth Guimarães

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Sinos de cidade morta Ruth Guimarães Tocaram certa vez os sinos, em desatinado alvoroço, quando os homens empedernidos da minha terra bateram nuns missionários. Um deles foi empurrado, a outro deram-lhe um pontapé. O religioso caiu, sem dizer palavra. Apenas olhou para o céu, tomando-o como testemunha de tamanha iniquidade. Justamente nesse momento, o sino desandou a badalar. Os homens entrepararam indecisos. Não fosse aparecer alguém com a idéia de quem em padre só se bate da coroa para cima. Subiram a torre, para ver quem tocava, e na torre não estava ninguém. O repicar não se fazia mais ouvir, mas a corda do sino ainda balançava de leve. Talvez o vento. Esse diabo desse sino enfeitiçado, resmungou um deles. Foram para casa, silenciosos, mas muito silenciosos mesmo, além disso com uma certa pressa. No lugar onde o sacerdote caíra diz que nunca mais caiu uma gota de chuva. Foi o preço do pontapé. Lá não chove mesmo, eu vi. Foi construído por cima do lugar uma espécie de galpão. Os pad

Palas Comunicação

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Palas Comunicação Prestação de Serviços em Trabalhos Acadêmicos Apoio na elaboração e revisão de trabalhos acadêmicos, conforme ABNT Olavo Botelho – tel: 11 97649 1386 / 11 2367 4935 Web: http://apoioerevisao.blogspot.com.br http://www.palascomunicacao.com.br E-mail: olavorevisor6@gmail.com MSN: olavorevisor@hotmail.com Oferecemos: REVISÃO: *  NORMA  GRAMATICAL *  CORREÇÃO E REFORMA ORTOGRÁFICA (Sintaxe e pontuação) *   REESTRURAÇÃO DO TEXTO *   COESÃO DA CONSTRUÇÃO TEXTUAL *   COERÊNCIA TEXTUAL FORMATAÇÃO ABSTRACT (INGLÊS, FRANCÊS, ESPANHOL E ITALIANO)  ELABORAÇÃO DE TEXTOS: *  CONCEPÇÃO E PRODUÇÃO DO TEXTO *  TEXTO ESTRUTURAL E DESENVOLVIMENTO *  DIGITAÇÃO * TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO/TEXTO EM PORTUGUÊS CONSULTORIA EM: COMUNICAÇÃO CORPORATIVA COMUNICAÇÃO PESSOAL TRADUÇÃO E VERSÃO NAS LÍNGUAS: INGLÊS, FRANCÊS, ESPANHOL E ITALIANO TRADUÇÃO SIMULTÂNEA “O revisor não só é um leitor, ele é um leitor com experiência de leitura e representa todos os potenciais leitores do texto que revisa. De cer

Santo Genaro, festa e desengano por Ruth Botelho

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Santo Genaro, festa e desengano Ruth Guimarães Morei no Brás, em São Paulo, quando tinha nove anos. Meu pai fora convidado para assumir a função de contador – guarda-livros, se chamava então – de uma firma de italianos. Ganhava um ordenadão de 400 mil réis por mês. Morávamos bem. Numa vila da Rua Gomes Cardim, iluminada ainda a lampião de gás, que a prefeitura mandava acender toda noite. Lampiões acesos, ruas ainda seguras, prosseguiam os meninos com o pique sem-fim e as meninas brincavam de roda. Meus primeiros e talvez únicos aprendizados do italiano foram os palavrões que a molecada soltava, nas brincadeiras de rua. Talvez o mais comum fosse “Maledeto San Genaro”. San Genaro, tratado assim, com essa intimidade, essa vizinhança moral, é uma espécie de Macunaíma italiano. Macunaíma é um tipo que está em todos os folclores, mudando o nome, é claro. Ele é João Soldado, é Pedro Malazartes, é Pedro Urdemales, é Ulisses, o Astuto, é Bertoldinho, é Cacasseno, é o velhaco, o safado, o herói

Alimentação Infantil por Mariana Prado Nutricionista

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Alimentação Infantil              No Brasil tem sido detectado o aumento da transição alimentar, com déficits nutricionais, levando ao um alto índice de sobrepeso e obesidade em adultos, crianças e adolescentes. As causas estão fundamentalmente ligadas às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares. Em observação verifica-se que, a obesidade é mais frequente em regiões mais desenvolvidas do País, como Sul e Sudeste. O consumo alimentar está relacionado ao sobrepeso e a obesidade, não somente quanto ao volume da ingestão alimentar, como também a composição e qualidade da dieta.             A obesidade pode iniciar em qualquer idade, desencadeada por fatores como o desmame precoce, a introdução inadequada de alimentos, distúrbios de comportamento alimentar e da relação familiar, especialmente nos períodos de aceleração do crescimento.             Em estudos, foram demonstrados em inquérito de frequência alimentar, realizados com pais, que o consumo de frutas, hortaliças e leite

Olympe Gouges Por Regina Rousseau

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Olympe Gouges Mulher à frente de seu tempo Tal cabeça feminina, tão perigosamente pensante, é fato que tenha rolado sob a lâmina da guilhotina. Inflamada, irreverente não parecia com ninguém. Embora, pobre e pouco instruída, condenada a uma vida sem perspectivas, ela reinventou com tanta competência outra vida, que quase tudo em seu passado, é uma grande interrogação. A grandeza da vida está na beleza da alma que jamais irá perpetuar-se na mesquinhez de uma vida escrava dentro do tempo como um pássaro na gaiola. Transformou-se numa escritora e oradora de língua afiada. Nenhum rótulo se aplicava a ela. Seu porte aristocrático, os traços delicados de uma donzela, o talento para as letras, o estilo tempestivo, não a conseguiu calar diante do regime da ditadura. E mesmo sabendo que andava no fio da navalha, enfrentou com coragem o terror quando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade foram ameaçados a sua volta. Porém, sonhar é perigoso... pode-se perder a vida numa revolta. Olymp

RETRATOS por Ruth Guimarães

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RETRATOS Ruth Guimarães Viam-no passar todos os dias.  Alto, grandalhão, membrudo, com um andar meio desarticulado, ao mesmo tempo pesado e macio, de ponta de pé apoiada completa no chão.  Vinha à frente da turma de educação física, de manhãzinha, logo depois que o toque de alvorada punha notas álacres no dia nascente.  Torsos nus, arrepiados de frio, queimados de sol.  Quando a turma passava de volta, o instrutor zombava do cansaço deles, com um riso bem seu apenas um franzir dos lábios finos: -         Oceis de atletas só têm o cheiro... O outro era o contrário.  Baixo, magrinho, olhos miúdos, pisca-piscante.  Olhava tão de fito o pobre do recruta, que o infeliz perdia completamente as estribeiras.  Era severo, rigorista, impertinente.  Preocupava-se com pormenores.   Diziam que passava o lenço nos fuzis dos comandados, para ver se estavam bem limpos. -         Olha o alinhamento! E a chamada começou.  Quando havia um faltoso, quase toda a  companhia respondia “Ausente”.  E o instrut

PRIORIDADES por Ruth Guimarães

PRIORIDADES por Ruth Guimarães  Ruth Guimarães Prioridades ou algumas razões para eu me passar para a crônica esportiva.  Pra quem não sabe, as reuniões do S.C. Corintinha são às quartas-feiras, nos fundos do bar do seu Manoel, presidente-sócio-fundador.  O presidente ocupa solenemente a cabeceira da mesa e a discussão começa.  -         Peço a palavra! -  diz um sócio, de cara fechada.  E desenrola a longa queixa:  -         Domingo vieram dois enxertos de Poá.  Para essa gente que vem de fora, é dinheiro, é lanche.  E pra nós que damos o sangue, daí a pouco estão cobrando.  Uma olhadela inamistosa para o lado do presidente, que se remexe inquieto.  -         Mas vocês compreendem... se não se agradar a essa gente, Oh! raios! Precisam compreender...  Alguém interrompe:  -         Eu vou falar...  -         Depois você fala.  E passam para o sempre atual problema do uniforme.  Jamais sobra dinheiro para comprar os sonhados calções pretos e, que diabo! o clube se chama Corintinha.  Não

PRIMAVERA por Ruth Guimarães

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Ruth Guimarães Li há muito em Joel Silveira: “uma esperança aos poucos vai ganhando tamanho no coração dos soldados. Trata-se da primavera. Na primavera aquela montanha fica toda verde, salpicada de flores vermelhas. Os rios voltam a correr e, na metade do dia, as suas águas são mornas. Virá o degelo que atolará os caminhos e sujará o mundo de uma argila negra. Mas, numa determinada manhã, uma flor terá nascido de uma lama ressequida e então será a primavera. Haverá sol.” Falava dos pracinhas brasileiros que, na campanha da Itália em buracos visguentos de lama, tiritando de frio, esperavam o sol. Talvez alguns entendessem, antes, de espera, vindos que eram de uma região que aguarda, na soalheira e no pó da terra calcinada, a benção da chuva. O que dá valor às belezas e excelências da vida senão o nosso desejo? De que serve a água para o que não tem sede? E o fruto para o farto? E o beijo para o indiferente? E o prazer para o saciado? Saciados estamos todos nós de flores e

Pescadores de tilápia parte 2 por Ruth Guimarães

  Pescadores de tilápia – 2  Ruth Guimarães  Pois eu contava que, na noite escura do rio assombroso, cada pescador deitou de bruços na pedra e esperou a hora – quando o rio dorme. Era tarde. O relógio da igreja tinha varado o coração do tempo com onze pancadas de bronze, sem poder quebrar o encanto. Foi quando o rio dormiu. Não se ouviu mais nem uma bulha. A água era óleo grosso, parado. Cada pescador, deitado de bruços, pegou a cutucar com a ponta do facão, embaixo do negrume de pedra, o cascudo negro, a nação de peixe mais feia que há. Parece um sapo. Parece um monstro ante-diluviano, em ponto pequeno. (Peixe e pedra cercados de um halo de prata.) Com a outra mão segurava um balaio, por baixo, para aparar o bicho. O cascudo é feio por fora e bom por dentro, como uma gente. É só sapecar na brasa, para arrancar a horrenda carapaça, e aparece a carne branca, diluente. Já não conto da fogueira, do cheiro do peixe bem temperado frigindo, do rio que recomeçou sua cantiga. Ninguém não viu m

Que poder tem o livro diante das armas! por Regina Rousseau

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Que poder tem o livro diante das armas! Assisti ao sábio discurso de Malala Yousafzai, que encarou a morte de perto de maneira tão estúpida pelo poder das armas, apenas por um único motivo:pegar seus livros, caneta e ir para uma escola estudar. Em quase todo planeta, é algo comum e rotineiro para as meninas da sua idade.  Porém, no seu país de origem é um crime que afronta toda uma tradição de exploração das mulheres. Por mais fanático que um terrorista possa ser, até na insensatez de se transformar em um homem bomba, ele sempre saberá do"perigo" que se esconde por trás dos livros, que o desperta do mundo fechado onde ele vive. Não sabe, por viver em um mundo escuro, sem conhecimento de sua realidade. Onde a sua ignorância também é explorada por quem apenas deseja o poder! O conhecimento é um constante trabalho de transformação humana, que somente a educação pode proporcionar dentro da sociedade como um todo. Onde não existirá lugares para exploradores, ditadores e extremista

Pensamenteando Raquel de Queiroz por Ruth Guimarães

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Pensamenteando Raquel de Queiroz Ruth Guimarães          Amor é jogo forte, só vale no tudo ou nada: amar é uma aventura heroica e insuperável, fora disso, tudo é perfumaria, amor suposto, talvez querer bem ou gostar – amar, nunca. Saiba ainda que, ao contrário do que se pensa, amor é coisa rara. Não é a todos que se apresenta a oportunidade de amar, nem se encontra a capacidade de amar em todos a quem a oportunidade se apresenta. É mister que se reúnam capacidade e oportunidade, ocasião e pessoa. Quanto ao objeto do amor – isso é somenos.           Se você ainda tem olhos para enxergar feiuras no seu suposto amado, se tem cabeça para lhe descobrir defeitos, é porque não ama. Se ele não lhe parece belo, irresistível, único – é porque não ama. Se por amor dele não está disposta a perder tudo, nome, fama, amor próprio, corpo, sangue, alma e divindade – então não ama.          Se qualquer homem do mundo, se qualquer outro homem lhe parecer mais bonito e mais interessante do que ele – entã

Para que se vestir por Ruth Botelho

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Para que se vestir Ruth Guimarães  Analisando rapidamente tudo quanto temos visto, chegamos à conclusão que por três motivos principais se usa a indumentária: para enfeite, por modéstia e para proteção. Há ainda um elemento que é mais ou menos como o perfume para a flor: um meio para atrair a atenção do outro sexo. Então a roupa é elemento de gala para época do namoro. E ainda podemos acrescentar o caso da roupa feita especialmente para aterrorizar, como mantilhas, enquanto as virgens usavam a cabeça descoberta e os cabelos soltos. Entre os egípcios, velhos e moços vestiam-se de modo diferente. Os reis  antigos usavam a púrpura e o cetro. Na China a nobreza usava seda, enquanto o povo apenas podia envolver-se em lã, linho ou algodão. Quanto aos enfeites, tribos mais atrasadas recorreram a cicatrizes, a tatuagens, a pinturas, à mutilação e a deformações, enquanto que, num estágio mais adiantado, vieram os colares, as plumas. As caudas, as pedras e anéis no lábio ou no nariz.           

Os sem-ofício por Ruth Guimarães

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Os sem-ofício Ruth Guimarães          Li um bocado nos jornais e fiquei inspirada a respeito de resolver ou não essa história de PAC e outros assuntos congêneres.  E essa balela de transformar a pobreza em classe média? Então o que estamos vendo é o treinamento do consumidor para o desfrute do inútil. Não parece que alguém esteja tentando diminuir a pobreza.  O próprio Cristo já dizia que nós teremos para sempre o pobre, o que não nos consola. A verdadeira pobreza é a falta de esclarecimento, a ausência do poder profissional e a não criatividade.  Com vistas a essa avaliação, não temos governo de pobre entretanto somos um povo de pobres.  Somos pobres vivendo enganados e confortavelmente em nossa pobreza em que nem acreditamos.  Tão doutrinados e apáticos, estamos tão bem em nossa inércia, que nos tornamos gordos e apáticos para sempre, sem luta, sem existir, como os porcos de Lobato em sua lama. O que é necessário combater? A satisfação do pobre dentro de uma pobreza patrocinada. O vo

Ode à minha terra por Ruth Botelho

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Ode à minha terra Ruth Guimarães Sou nascida em Cachoeira Paulista, estado de São Paulo, no Vale do Paraíba . Mas sempre considerei São Paulo o meu lugar. Minha terra de eterna primavera de onde não partem as andorinhas, e onde os sanhaços fazem túneis nos mamões e nas goiabas. As abelhas zumbem, traçando riscos de ouro no ar trêmulo e cheiram a mel quente de sol, bebida dos deuses, a fruta fermentando, perfume perturbador e violento, que embebeda e faz o pensamento derivar sem rumo, por desvios e curvas. Dá preguiça, gente. Uma preguiça coçada de bicho sem responsabilidade, que vive para agradar o corpo. O chão é  quente, escuro, dele sobe um bafo calorento. O Paraíba passa pelo meio da cidade, é uma prata no frio, óleo grosso, na chuva. Menino de beira-rio, por qualquer dinheirinho à toa, atravessa a nado aqueles cento e poucos metros, com alguma traiçoeira correnteza pelo meio, para lá e para cá. Menina sonha não sei o que, tem cheiro de fruta, tem pelo de fruta, vida agredindo por

MOÇOS por Ruth Guimarães Botelho

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MOÇOS Ruth Guimarães Primeiro li todos os jornais, mas todos, sem faltar nenhum, e depois fui ouvir o noticiário pelo rádio e minha alma ficou triste até a morte. E eis que esta é uma crônica de penitente. Penitencio-me de ter escrito um dia que o hino nacional da mocidade era o iê-iê-iê “Que vá tudo pro inferno”, de Roberto Carlos. É verdade que apontava como causa o nosso péssimo exemplo de mais velhos. Já Mário de Andrade, reconhecendo as belas qualidades da juventude, clamava: “O que fazem esses moços, que não se voltam para nós?” Pois aí estão os moços voltados contra nós, geração podre que lhes legou uma herança abominável. Geração que se lhes pôs diante, disforme e despudoradamente. Os professores universitários foram humilhados e ofendidos e eu não disse uma palavra. Houve cassados e caçados e eu não disse uma palavra. Sou o produto covarde de uma geração de covardes. A mim me preocupam o meu pão, o meu teto, o meu sossego, a minha respeitabilidade mesquinha, o meu emprego. Não