PRETÉRITO QUASE PERFEITO por Ruth Botelho
PRETÉRITO QUASE PERFEITO Ruth Guimarães A mercância não desiste. Não nos dá folga. Não nos deixa raciocinar, não pára de produzir novidades. A cada invenção, a cada melhoria e aperfeiçoamento, assimilamos mais uma experiência de desutilidade. Desculpem o palavrão. Ficamos escravos de mais uma necessidade que não nos serve para nada. Porque não nos faz crescer em alma e dignidade. E nem mesmo em saúde. O automóvel e o estofado do escritório nos dão hemorróidas. O microfone, a caixa de som, o alto-falante nos deixam surdos. E não se fala das momentosas novidades do aquecimento geral, do buraco negro, do ozônio, da poluição, dos rios e dos ares e por aí afora. Não há nenhum invento, como o avião, por exemplo, do qual o uso, o abuso, o mau uso, não transformem em inimigo da humanidade. Está aí o plástico. Estão aí as usinas nucleares. A serra elétrica. A lambreta. O urutum e a polícia...