As lágrimas de MukhtarMai por Regina Rousseau

As lágrimas de MukhtarMai 


Jovem pobre e analfabeta, de casta inferior,

[caption id="attachment_2006" align="alignright" width="300"]As lágrimas de MukhtarMai As lágrimas de MukhtarMai[/caption]

condenada foi pela jirga (corte tribal de sua aldeia),

a ser estuprada e humilhada na presença

de homens excitados e impacientes.

Qual foi seu crime? Nenhum!

Segue-se um breve silêncio e então vem o medo.

Ela é arrastada à força, brutalmente,

Como cabra a ser abatida, por quatro homens.

Num estábulo vazio perde a consciência de si mesma,

mas não o rosto daqueles animais bestiais.

 

Semi-nua, diante de toda a aldeia,

que ali estava à sua espera, sob um véu,

(sua única dignidade), ela não sabe para onde ir.

Seu corpo recusa a realidade, ela está ali, mas não é ela.

 

Ela pensa em suicídio, engolir ácido e morrer...

é o que as mulheres normalmente fazem nessa aldeia,

para apagar definitivamente o fogo da vergonha,

que se abate sobre a sua família.

 

Porém recita de memória um versículo do Corão.

E numa espantosa coragem, recusando-se a ficar em silêncio,

ela desafia seus algozes e enfrenta o código tribal.

Vai à Justiça pedindo punição para todos os culpados.

Sua voz não treme, levanta os olhos e encara os condenados.

 

Esses homens têm o monopólio da violência

sobre as mulheres, não temem a Deus nem o mulá.

Desfrutam do poder que lhes são conferidos

por sua casta superior; e de acordo com o sistema tribal,

decidem quem é o inimigo, quem deve ser esmagado,

humilhado, roubado, violado, escravizado, currado.

Em total impunidade, investem contra os fracos.

 

Os atos de barbárie revoltam a consciência da Humanidade.

Que venha um novo advento de um mundo em que os seres

Humanos sejam livres para viver, falar e crer,

libertos do terror e da miséria.

 

Suas lágrimas não foram em vão, Mukhtar.

Numa voz baixa e tímida, ela deixa uma mensagem

para as mulheres do mundo: “Toda mulher vítima de

Estupro e de violência, deve falar sobre o que houve,

e lutar, lutar por justiça.”

Regina Rousseau

 EM TEMPO:


 Tenho lido muita coisa no campo de estudos do gênero e sempre sou surpreendida por uma perspectiva diferente ou uma reflexão inovadora, muito embora alguns desavisados questionem se ainda é necessário tratar da questão feminina no mundo de hoje. Sim, mais do que nunca.No Brasil também, todos os dias, mulheres são estupradas, violentadas, espancadas, assassinadas, muitas vezes por seu próprio companheiro. E a Justiça é tão falha, quanto às violações dos direitos humanos no Paquistão; na maior parte do caso, acaba em impunidade.

No caso da estudante de 18 anos da Universidade de São Paulo (USP) em Lorena, que foi currada em uma república por três colegas, "a USP afirmou que ainda não tomará nenhuma atitude contra os estudantes".

Acredito que os três estudantes deveriam ser banidos da Universidade pelo ato bárbaro que praticaram, para que sirva de exemplo aos desavisados, onde no país de desvalores e de impunidades, um Campus Universitário, que forma profissionais capacitados para o futuro, exercite a autoridade como Instituição que também valoriza a educação de valores, respeito, caráter e, sobretudo, formação de cidadãos, já que na Família, isso não é mais ensinado. Ou a instituição USP, corre o risco de ficar também desacreditada no Brasil, se atitude severa nenhuma for tomada. Será que a vítima estuprada por seus colegas acadêmicos, terá que conviver com eles na mesma Universidade?

Se assim for, no Brasil, em pleno século XXI, as leis não são diferentes das leis arcaicas e insanas doPaquistão. "
 Regina Rousseau

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