ENIGMA por Ruth Botelho
ENIGMA Ruth Guimarães O “século das luzes”, como foi chamado, tinha antes sido violentamente positivista, materialista, realista, naturalista, entregue às ciências, e à solução imediata dos problemas, mesmo os estéticos, por vias nada metafísicas. Falava-se em invenções e descobertas. Falava-se em experimentação e artesanato. A confiança degenerou em fanatismo, não havia ideal, mas ideologia, e por fim se chegou, lá pelo fim do século, à dúvida, ao desânimo, à falência do método material para a terapia dos males. Mais uma vez a humanidade chegava ao cansaço e não chegava à solução. E nesse “fin-de-siècle”, cujas nuanças repousaram no crepuscular, em que o espiritual se transformou num refúgio e num oásis surgiram suaves meias luzes de espiritualidade e misticismo. Ao social sucedeu o individual. Ao realismo, o sonho. Ao que era nítido e cortante, cheio de arestas e de impiedade, seguiu-se o esfumado, o vago, a sugestão, o mistério, o divino. Todo o mundo ocidental cambiou para ess...