Sinos de cidade morta por Ruth Guimarães
Sinos de cidade morta Ruth Guimarães Tocaram certa vez os sinos, em desatinado alvoroço, quando os homens empedernidos da minha terra bateram nuns missionários. Um deles foi empurrado, a outro deram-lhe um pontapé. O religioso caiu, sem dizer palavra. Apenas olhou para o céu, tomando-o como testemunha de tamanha iniquidade. Justamente nesse momento, o sino desandou a badalar. Os homens entrepararam indecisos. Não fosse aparecer alguém com a idéia de quem em padre só se bate da coroa para cima. Subiram a torre, para ver quem tocava, e na torre não estava ninguém. O repicar não se fazia mais ouvir, mas a corda do sino ainda balançava de leve. Talvez o vento. Esse diabo desse sino enfeitiçado, resmungou um deles. Foram para casa, silenciosos, mas muito silenciosos mesmo, além disso com uma certa pressa. No lugar onde o sacerdote caíra diz que nunca mais caiu uma gota de chuva. Foi o preço do pontapé. Lá não chove mesmo, eu vi. Foi construído por cima do lugar uma espécie de galpão. Os pad...