CAMPO DE FLORES POR Ruth Guimarães Pois eu disse que nunca vi campo de flores nesta terra. Que não só não vi, mas que não os há. Não aludia a jardins, nem a hortos, nada de cultivado, mas à rústica vegetação silvestre, ao bom produto natural, à florzinha que não tem nome nem história, não enfeita a vida, nem disfarça a morte, nasce à toa e morre pisada de bichinho de mato, nunca viu vaso nem baile, nem colo de moça bonita, nem botoeira de esmoque. Flor tão somente. Não dou notícia de campo florido, embora mar de seda roxa se me afigure em agosto o capim alto desabrochado, bem efêmero. E não só que eu não conheça, escritor nenhum viu isso, a não ser Euclides da Cunha, que, falando a Coelho Neto dos mistérios da Amazônia, alude a certo lago coberto de açucenas, escondendo traições. Tinha perfume tão intenso, que atraía de muito longe gente e animais. Esses romeiros do aroma não dormiam mais que uma noite, ou antes, dormiam para sempre....