ORAÇÃO PARA SÃO CLEMENTINO por Ruth Guimarães
ORAÇÃO PARA SÃO CLEMENTINO Ruth Guimarães Minha mãe era uma boa alma. A mais antiga das minhas lembranças a respeito de um tal seu Clementino, servente do Grupo Escolar o traz de volta ao olhar da memória, batendo os tamancos na chamada rua da Ponte, aliás rua de Cima, nome certo era Silva Caldas (Silva, não Sílvio). Vinha pela rua muito franzino e curvo, branquinho, engelhado, com seu parelho de brim de cinza gasto, desbotado o paletó subindinho nas costas, corcunda que seu Clementino era. O sol era quente, tremia o ar, as árvores se abochornavam, cansadas, havia um lento ensimesmar por toda a várzea. Rua de Cima era quente, negra, modorrenta. Seu Clementino vinha de tamancos, pleque-pleque, era um custo andar todo aquele pedaço. Todos os dias. Tinha a fala mansa. Tinha um riso malestarento, de boca entreaberta, suplicante, deixava a gente com vontade de chorar e meio com raiva dele. Tinha um modo de dizer “sim-senhor” (“Não-senhor” não falava). Dava vonta...