A civilização do burrico – Crônicas Ruth Guimarães
A civilização do burrico Ruth Guimarães E porque a Bahia é toda doce, cheirosa e mansa, o animal que ajuda a impulsionar a sua civilização de ritmo brando, somente poderia ser o burrico, chamado jumento, chamado jerico, chamado jegue, tão singelo, tão sem jeito, que jegue, na saborosa gíria de caserna, é o soldado malamanhado, o desengonçado, o desengraçado. Mas, até que o jegue não é tão desajeitado assim. Vamos ver a esse ajudante geral do transporte baiano. É uma criatura sóbria, na cor e na postura. Cinzento, de poucos gestos, pequeno, orelhas compridas, uns toques de branco aqui e ali, olhos líquidos, castanhos, pestanudos, o úmido focinho negro, um jeito de quem anda pensamenteando a desgraçada vida. Está em toda a parte. Encontramo-lo no asfalto, que os seus firmes cascos não estranham, trazendo os cestos de fruta madura, de não sei de onde, por ai. Nas praias, lá está: faz parte da paisagem, como as palmas e as choças. E está em Água de Meninos, pois tanto vem a carga no seu lo...